Tecnologia e as Relações de Trabalho

A evolução das relações de trabalho tem como marco principal a Revolução Industrial ocorrida em meados do Século 18, com a substituição do sistema de trabalho manufaturado pela utilização de máquinas.

O avanço das máquinas no setor produtivo, o elevado consumo, decorrente do crescimento populacional, alimentados pela produção de grande escala, impulsionou o desenvolvimento e a criação de novas tecnologias aplicadas aos mais diversos setores da economia, integrando distantes e distintas partes do mundo.

Esta integração ocasionou o surgimento das empresas multinacionais e transnacionais, e o consequente aumento da competitividade imposta pela transposição das fronteiras nacionais para produção e comércio.

A sobrevivência das empresas passou a depender da relação entre os fatores que lhe permitem competir globalmente com suas concorrentes.

Nesse contexto, observamos nas últimas décadas um aumento vertiginoso da tecnologia nos mais diversos setores, o que certamente vem trazendo significativos reflexos nas relações de trabalho.

As inovações tecnológicas reduziram as distâncias e o tempo nas trocas de informações, conectando pessoas e lugares em questão de segundos.

A imediatividade das notícias, as redes sociais e a interatividade resultaram em uma maior transparência entre as empresas, e entre essas e seus consumidores, através dos grupos de discussão, dos canais de comunicação e dos demais meios de comunicação disponibilizados através da internet.

A tecnologia também propiciou o aumento do chamado “home office”, modalidade de prestação de serviços em que o empregado pode desempenhar suas atividades laborais em sua própria residência, não apenas nas dependências da empresa. Esse tipo de trabalho vem crescendo constantemente, em especial nos grandes centros urbanos, ante as dificuldades de mobilidade e tempo vivenciadas nesses lugares.

No Brasil, o “home office” denominado juridicamente como teletrabalho foi, inclusive, recentemente regulamentado através das alterações trazidas pela Lei 13.467/17 na Legislação Consolidada Trabalhista, com a edição do Capítulo II-A, artigos 75-A / 75-E.

Nos mais diversos setores da produção, a mão de obra que antes operava as máquinas, com o avanço tecnológico, passou a ser substituída por elas. No setor sucroenergético, por exemplo, é possível mecanizar integralmente toda a produção, desde o plantio até o produto final.

Essa mecanização proporciona a padronização do processo, maior controle das atividades de modo a compatibilizar o movimento da indústria, garantindo a segurança à produção, além de minimizar os impactos ambientais provenientes da queima da cana.

Por sua vez, a mão de obra dispensada em razão dessa mecanização, poderá passar por uma capacitação a fim de adquirir conhecimento necessário às novas praticas de produção, utilização de equipamentos e demais atividades, melhorando sua qualificação profissional, sua remuneração e, consequentemente, sua qualidade de vida.

Como exemplo das melhorias trazidas pela tecnologia nas relações do campo acima mencionadas, bem como da preocupação do setor em relação às alterações do trabalho decorrentes dos avanços tecnológicos, cita-se o Projeto RevovAção.

Esse projeto, de iniciativa do setor sucroenergético e da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), em parceria com as Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura de São Paulo e várias entidades, dentre outras ações, implementaram voluntariamente diversas iniciativas voltadas para a requalificação dos trabalhadores que até então dedicavam-se ao corte manual de cana, buscando viabilizar melhores oportunidades de trabalho dentro das próprias usinas ou em outros segmentos da economia.

Assim, se por um lado a inovação tecnológica ocasionou a dispensa de mão de obra em razão da sua automação, por outro ocasionou o surgimento de novas e inúmeras atividades.

Identificamos várias formas de trabalho que se originaram do crescimento tecnológico, impulsionados pela conectividade e interatividade da internet através de aplicativos e redes sociais, dentre elas podemos destacar criação do aplicativo “UBER”, que conecta usuários e motoristas nos mais diversos centros urbanos.

Outras profissões, como Analista de Mídias Sociais (atuam como consultores de empresas ou pessoas, auxiliando nas interações com o público através das redes sociais), Desenvolvedor de Aplicativos (atuam na arquitetura dos programas criados para smartphones, Marketing Digital (atuam na identificação de público-alvo de empresas, a fim de auxiliar nos estudos de mercado), Influenciadores Digitais (que ditam tendências em moda, consumo, política, estilo de vida, decoração etc., através de seus seguidores em redes sociais, como Facebook, YouTube, Instagram, dentre outros) são exemplos de atividades que surgiram e vêm tomando conta do mercado de trabalho como consequência das inovações tecnológicas.

Verifica-se que, de maneira geral, a tecnologia vem impactando em todos os setores da economia, desde a área de saúde, ciências humanas até o setor de serviços. O profissional do futuro precisa estar altamente especializado, desenvolver habilidades de adaptação, empatia e, principalmente, criatividade para propor soluções a problemas ainda não conhecidos.

Além de se preparar melhor, o profissional do futuro precisa estar pronto para se adaptar às novas relações de trabalho.

Os avanços tecnológicos criaram um novo perfil ao trabalhador, que se vê obrigado a dominar todos os meios de interatividade necessários ao desempenho eficiente de sua atividade, além da necessidade de se aperfeiçoar tecnicamente, a fim de se preparar ao mercado cada vez mais competitivo.

Esse fato deve ser encarado de forma positiva, pois trará inúmeros benefícios ao próprio trabalhador, na medida em que estará sempre incentivando a reinventar-se profissionalmente, acompanhando as inúmeras e constantes transformações que ainda estão por vir.

 

Autoria: Dr.ª Cristiane Ragazzo Sabadin – OAB/SP 243.8013